Na Faculdade de Odontologia da USP, projeto torna a biblioteca um ponto de partida para inovações nas diversas áreas do conhecimento
Ao contrário de perderem importância, as bibliotecas ganham ainda mais com as novas tecnologias. Na Faculdade de Odontologia (FO) da USP, um projeto vem refinando as buscas por conhecimento por meio da utilização de um sistema de Inteligência Artificial (IA). Denominado Centro de Recursos de Aprendizagem e Investigação (CRAI), a iniciativa simplifica o caminho para se encontrar a inovação em qualquer área do conhecimento. Um software de IA, denominado provisoriamente como Minerador de Inovação, cruza informações e gera dados e relatórios sobre toda a produção científica catalogada numa determinada biblioteca. Um dos grandes diferenciais do Minerador é permitir a busca por termos da linguagem natural humana, e não só por palavras-chave, como é comum em sistemas de bibliotecas.
O professor da FO Moacyr Novelli, que coordena o trabalho, diz que ele ainda não está de todo concluído, mas já pode ser utilizado. “Estamos desenvolvendo agora uma interface amigável que facilitará os processos de navegação da ferramenta”, informa o professor Celso Massatoshi Furukawa, da Escola Politécnica (Poli) da USP, que é parceiro do projeto CRAI. A coordenadora da Biblioteca da FO e doutora em Ciência da Informação Lúcia Maria Sebastiana Verônica Costa Ramos também integra a equipe de implementação.
A busca pela inovação com o uso da IA se dá pela utilização de uma série de ferramentas e conceitos de bibliometria. Para viabilizar o funcionamento do CRAI, o professor Novelli e sua equipe indexaram 60.400 teses de doutorado de toda a USP. Só da FO foram 1.600. “As teses de doutorado espelham toda a vocação da Universidade. É o documento mais confiável em termos do que a USP vem produzindo”, descreve o professor.
No Sistema Integrado de Bibliotecas (SiBi) da USP existe um acervo eletrônico de mais de 11 milhões de títulos, com informações digitalizadas de um acervo físico composto de mais de 8 milhões de títulos. O objetivo foi desenvolver um aplicativo para processamento desses dados e construir novos conceitos e ideias a partir da tabulação cruzada dessas informações”, descreve Novelli.
De acordo com o professor, com o software de IA haverá uma mudança nas rotinas de uma biblioteca, que servirá não só como local de busca e de registro de informações, mas apresentará possibilidades de interações, dados e textos aos usuários, gerando sugestões de inovações.
Envelhecer sorrindo
Mas de que maneira, por meio de tantas informações que constituem um acervo imenso como o de uma biblioteca, será possível detectar algum tipo de inovação? Na prática, o novo software minerador de dados vai gerar, a partir de uma pesquisa, informações cruzadas que permitam visualizar as ocorrências entre termos de uma busca.
Exemplificando: se o usuário buscar por “capim mombaça” e “celular android”, o minerador de dados apresentará um gráfico das teses de doutorado que tratam dos dois temas. Aparentemente distintos, certamente haverá ligações entre os termos e serão apresentadas pesquisas de diversas áreas do conhecimento. “À medida que as ligações se mostrarem cada vez mais distantes ou isoladas, significa que estamos diante de possíveis inovações”, descreve Novelli.
Com base nos resultados até o momento obtidos, vem sendo realizada no CRAI a articulação das informações de um serviço de extensão destinado a pacientes da FO da USP, a ONG Envelhecer Sorrindo.
A iniciativa, que já existe há 20 anos, fornece atendimento multidisciplinar a idosos que necessitam de prótese total. O serviço vai desde atendimento odontológico, psicológico e fisioterápico até fonoaudiológico e nutricional. Segundo o professor Novelli, serão coletadas informações dos prontuários de pacientes, de imagens clínicas e de aparelhos protéticos. Esse material será articulado com os textos das teses da FO e de outras unidades da USP que tratem de temas correlatos. “Toda essas informações serão enviadas ao software de IA, que nos retornará dados que apontem para possíveis inovações”, descreve o coordenador.
Furukawa e Novelli já propuseram a implantação de um CRAI também na biblioteca Prof. Dr. Alfredo Gandolfo, que fica no prédio das Engenharias Mecânica, Mecatrônica e Naval, da Poli. Segundo Furukawa, a proposta é incluir serviços pedagógicos e recursos tecnológicos, com instrumentos e equipamentos que permitam aos alunos desenvolverem pesquisas próprias e explorar ideias inovadoras.
“A ideia é fazer da pesquisa científica um instrumento de formação e fomentar iniciativas inovadoras e empreendedoras dos alunos”, descreve o professor da Poli. Dentre diversas iniciativas propostas, está a criação de revistas estudantis para incentivar os alunos a publicarem os resultados de seus trabalhos e assim adquirir experiência na escrita de artigos técnico-científicos. “Na Poli já criamos a Mecatrone”, destaca Furukawa. A publicação eletrônica está hospedada no Portal de Revistas da USP desde 2015. A proposta é que o Minerador esteja disponível em todas as bibliotecas da USP quando estiver pronto, mesmo naquelas que ainda não utilizarem o sistema CRAI.
Por: Jornal da USP
Fonte: Investe São Paulo
Comments