Futuro do agronegócio está na integração entre sustentabilidade, inovação e conectividade
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Futuro do agronegócio está na integração entre sustentabilidade, inovação e conectividade

Outros dois pilares importantes para o setor, segundo painelistas do Congresso Brasileiro do Agronegócio, são infraestrutura e gestão


Com a presença de cerca de 1.000 pessoas, a ABAG – Associação Brasileira do Agronegócio, em parceria com a B3 Bolsa Brasil Bolsa Balcão, promoveu nesta segunda-feira (5-8), em São Paulo o Congresso Brasileiro do Agronegócio. Na abertura do evento, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, ressaltou que a agricultura brasileira promoveu, nos últimos 40 anos, uma verdadeira revolução no agro brasileiro, alcançado uma posição de destaque no plano mundial de produção de alimentos, fibras e energia. “A nossa tecnologia dos trópicos e o empreendedorismo dos agricultores contribuíram para essa realidade, garantindo a segurança alimentar nacional e alimentado cerca de 1,2 bilhão de pessoas no mundo”, afirmou a ministra na solenidade de abertura do encontro.


A ministra ponderou, no entanto, que o agro brasileiro vem sendo afetado por algumas questões, como por exemplo, a falta de uma comunicação eficiente sobre o que tem feito pelo setor, tanto na questão ambiental como no aspecto da segurança alimentar. “Nessa fase de transição pelo qual passamos, precisamos estar integrados, necessitamos de ações unificadas a favor do agronegócio e do Brasil. E tudo isso passa por uma boa comunicação, com todos os elos da cadeia produtiva falando a mesma língua. É inadmissível que o agronegócio brasileiro seja bombardeado, em decorrência da desinformação”, enfatizou. Em seu pronunciamento, a ministra ainda destacou a importância da biotecnologia, da agricultura digital e das agritechs.


O presidente da ABAG, Marcello Brito, concorda com o posicionamento da Ministra pela uniformização da comunicação do agronegócio nacional. “Os temas mais deliberados nos últimos meses em nosso segmento foram: desmatamento, acordo entre a União Europeia e o Mercosul e a liberação dos agroquímicos”, disse. “Porém, as informações divulgadas não refletem, necessariamente, a realidade do nosso setor, o que faz com que haja uma percepção negativa acerca do trabalho realizado por toda a cadeia produtiva”, acrescentou.


Para Brito, a comunicação do agronegócio não está sendo feita de maneira assertiva. “Dessa forma, a percepção ganha mais força do que a realidade. Assim, precisamos de discursos mais centrados e organizados, pautados em ciência e em dados, menos em engajamento ideológico”, refletiu. Já o presidente da B3, Gilson Finkelsztain, reafirmou a importância do Congresso Brasileiro do Agronegócio como um espaço para o debate dos temas mais relevantes, que deve contribuir para o desenvolvimento pleno do agronegócio nacional, com a participação de toda a cadeia produtiva.


Em seguida, o governador em exercício de São Paulo, Rodrigo Garcia, disse ser notável o avanço do agronegócio nos últimos anos, por conseguiu reunir os produtores rurais, a indústria, governos e a comunidade científica em torno do desenvolvimento tecnológico, da pesquisa e inovação, a fim de obter maior produtividade. “Se há alguns erros em termos de comunicação, o agro conseguiu muito em termos de produção. Hoje, nosso país possui o maior potencial agrícola do mundo”, disse. “Não podemos perder essa janela de oportunidades para destravar o Brasil, por isso temos que aprovar outras pautas importantes, como a reforma tributária, que são tão necessárias para a competitividade da nação e do agro”, acrescentou.


Participaram também da solenidade de abertura do Congresso Brasileiro do Agronegócio, o deputado federal Alceu Moreira, presidente da Frente Parlamentar do Agronegócio, o secretário especial de Comunicação Social do Governo Federal, Fabio Wajngarten; o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), Almirante Sergio Segovia, o presidente da SP Negócios, Juan Quirós.


Após a solenidade de abertura, o chairman do grupo chinês Cofco International, Jingtao (Johny) Chi, fez a palestra de abertura sobre o tema “O Mercado Chinês e a Produção Sustentável no Brasil”. Entre outras informações, ele adiantou que o grupo chinês, uma das maiores tradings de commodities do mundo, projeta crescimento médio anual de 5% nas suas importações de grãos do Brasil nos próximos cinco anos. “A parceria da nossa empresa com os produtores brasileiros será cada vez mais aperfeiçoada, principalmente agora com um ambiente de negócios mais seguro e estável”, afirmou o executivo.


No entender do palestrante, a tendência para o futuro é de haver um estreitamento ainda maior do intercâmbio comercial entre a China e o Brasil. “A população chinesa vem mudando seus hábitos alimentares e, com o ganho de poder aquisitivo, consumirá cada vez mais proteína animal, o que abre boas perspectivas para os produtores brasileiros”, afirmou. Salientou ainda que, cada vez mais, aumenta a preocupação com a questão ambiental. “Vivemos uma transição na agricultura mundial para um modelo mais sustentável”. Acrescentou que a Cofco tem adotado ações para estimular e premiar produtores que preservam o ambiente.


CUSTO BRASIL – O primeiro painel do Congresso Brasileiro do Agronegócio tratou dos principais fatores que impactam o Custo Brasil, como por exemplo, a infraestrutura logística deficiente, a alta carga tributária e a instabilidade política que afasta os investimentos. O presidente da Yara Brasil, Lair Hanzen, destacou que a disparidade de valores dos tributos cobrados em cada estado é tão grande que influencia na estratégia de distribuição das indústrias do agronegócio. Isso significa que, em alguns casos, os locais escolhidos para serem a base da distribuição em uma região dependem mais da tributação do que da logística

O diretor do Centro de Cidadania Fiscal (CCiF), Bernard Appy, corrobora com a avaliação de Hanzen e acrescenta que o ICMS é um dos tributos que mais impactam no Custo Brasil e que ele não está contemplado no projeto de reforma da previdência. “Entendo que a elevada carga tributária não penaliza a empresa, mas sim o consumidor final”, afirma Appy. “O agro é muito competitivo da porteira para dentro e a função do governo é não atrapalhar, sobretudo na área tributária”, finaliza.


O presidente do Instituto CNA, Roberto Brant, avaliou ainda que as limitações do crédito rural também aumentam o Custo Brasil. “Acho um equívoco diminuir a participação do Banco do Brasil no setor. Os bancos privados ainda não estão estruturados completamente para absorver essa demanda. Assim, é necessária a criação de novas ferramentas de crédito, compatíveis com a grandeza do agronegócio e o retorno que o segmento gera para a economia”, reforçou.


No caso da logística, Brant relembrou que a infraestrutura rodoviária foi concebida há muito tempo para atender, inicialmente, a economia do Sul e do Sudeste do País. “A maior necessidade de infraestrutura rodoviária e ferroviária está hoje situada na metade norte do nosso país. No entanto, tudo ainda é muito lento, além das licenças ambientais que, em algumas situações, são um obstáculo para as obras”, acrescentou. EUA – um dos principais concorrentes do Brasil no agronegócio – na questão logística, seria necessário o investimento de aproximadamente R$ 1 trilhão. Na avaliação de Jorge Buzzetto, eles “não são os melhores em termos de logística, pois são o 14º no ranking mundial”. Buzzetto ainda destacou que na área de defensivos agrícolas, um fator que impacta o Custo Brasil é o registro do produto.


HOMENAGENS – Em paralelo aos debates, o Congresso Brasileiro do Agronegócio prestou algumas homenagens a profissionais e programas de destaque no agro. Este ano foi prestada uma homenagem especial ao Programa Educacional Agronegócios na Escola, desenvolvido pela ABAG Ribeirão Preto. Foram entregues ainda os prêmios Personalidade do Agronegócio “Ney Bittencourt de Araújo” e Norman Borlaug de Sustentabilidade.


No prêmio Personalidade do Agronegócio, o homenageado deste ano foi o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio fundador da MB Associados. Já o Prêmio Norman Borlaug foi entregue a Marcos Guimarães de Andrade Landell, pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas. No primeiro caso, a apresentação do homenageado foi feita pelo ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, atual coordenador do GVagro da FGV. No caso do segundo homenageado, a apresentação foi feita por Luiz Carlos Corrêa Carvalho, ex-presidente e atual diretor da ABAG.


Logo após as homenagens entrou em debate a sustentabilidade, que é uma tendência mundial, que vem englobando todos os setores da economia, inclusive o agronegócio. Se o segmento alcançou um alto índice de produtividade, com a aplicação de tecnologia; agora é o momento de reforçar o aspecto sustentável da produção nacional. “A sustentabilidade é muito favorável ao Brasil e à agricultura. Ela insere um novo padrão e dissolve a dicotomia de que ou há conservação ou há produção. Hoje, é possível ter produção e conservação, com rentabilidade”, enfatizou Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), que participou do painel Pilares para o Futuro do Agro.


No entender de Marina, o Brasil é uma grande solução para os padrões de sustentabilidade. A pecuária nacional, por exemplo, é sustentável, ao emitir menos metano em relação a de outros países. “Porém, aqui ainda é preciso combater fortemente o desmatamento ilegal, que é o grande vilão da sustentabilidade ambiental. Mas, acredito que não é algo muito difícil de ser resolvido, basta combater a criminalidade”, sustentou Marina, ressaltando a importância de uma maior integração entre a inovação e a sustentabilidade.

Para Douglas Ribeiro, diretor de Marketing da Corteva Brasil, há uma conexão total entre a inovação e a sustentabilidade, com conectividade. “Se pensarmos no agronegócio nacional, o produtor brasileiro sempre optou por inovação e tecnologia, já que crescemos com produtividade e não com área agricultável”, ponderou.


No sentido da conectividade, Ulisses Thibes Mello, diretor da IBM Research Brasil, destacou a questão da digitalização no campo. “Hoje nós temos a sensorização do campo de várias formas. Um trator, por exemplo, tem mais de dez sensores, além do computador de bordo. Ano passado, foram lançados mais de dez satélites com resoluções diferentes. Tudo isso está possibilitando criar gênios digitais, ou seja, a partir de uma imagem do campo é possível fazer várias coisas. E essa transformação digital vai ampliar a produtividade e a rastreabilidade e diminuir as perdas de produção”, explicou.


Em relação ao tema da infraestrutura, o país tem de pensar de forma mais estratégica. O professor da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende, lembrou o que está acontecendo com os países que são os principais competidores do agro brasileiro. “No mundo, o que se faz é buscar o equilibro entre armazenagem e transporte. No agro brasileiro, 42% dos custos logísticos estão ligados ao transporte de longa distância e 18% estão na área de armazenagem. Nos Estados Unidos o custo do transporte de longa distância é de 30% e 40% é de armazenagem. O que significa, que nós, aqui,temos de produzir e escoar com rapidez por falta de armazenagem”.

Outro pilar importante para o futuro do agronegócio é a gestão e a produtividade das pessoas. “Atualmente, em um modelo de gestão simplificado, nós temos que ser bons em finanças, análise de mercado e de clientes, em processos e em tecnologias. No entanto, quando se trata de pessoas, por diversos motivos e barreiras, ela torna-se menos importante do que os outros pilares. O mínimo que temos que fazer é que ela tenha a mesma relevância que as demais porque isso está relacionado à produtividade”, finalizou Ruy Shiozawa, presidente do Great Place to Work Brasil. O Painel 2 do evento da ABAG/B3, que tratou de Mecanismos Financeiros, colocou os representantes dos principais bancos junto com a B3 e um consultor jurídico para debater critérios de crédito para o produtor. “Acredito que, com a queda dos juros da Selic, estamos abrindo uma janela macroeconômica importante para um novo modelo de crédito e de gestão de risco também para o agro”, afirmou o advogado Renato Buranello. O diretor de Agronegócios do Itaú BB, Pedro Barros Barreto Fernandes, concordou com Buranello e acrescentou que, realmente, é uma grande oportunidade para o agronegócio porque ter taxa básica de juros baixa significa uma mudança estrutural na economia do país. “No entanto, para formar uma linha de financiamento, existem outros fatores, como o custo de observância (fiscalização)”. Já a condição para baixar o spread, segundo o diretor de Agronegócios do Santander, Carlos Aguiar Neto, a condição é ter concorrência na oferta de crédito. “Isso se dá quando os agentes querem emprestar para o setor, com as mesmas condições, e assim o produtor possa escolher onde captar os seus recursos”, afirmou.


O diretor de Agronegócios do Bradesco, Roberto França lembrou que o recurso obrigatório possui a taxa mais barata do mercado (8,5%) e o recurso livre tem uma taxa superior, pois é necessário inserir o spread bancário. Já Aguiar Neto salientou que uma vantagem do recurso livre é que ele não possui amarras, podendo sair de um dia para o outro. Por fim, Juca Andrade, vice-presidente de Produtos e Clientes da B3 afirmou que uma parte importante do spread bancário está no custo de recuperação de crédito.


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