O anúncio da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de que a conta de luz entrará na bandeira vermelha e ficará mais cara no mês de maio é o reflexo da grave crise hídrica que afeta o País. Em outubro, a ONS registrou o pior mês para o período de 90 anos no SIN (Sistema Interligado Nacional) do nível dos reservatórios das hidrelétricas no País. Mas, um processo iniciado no fim do ano passado pode ajudar a reverter este quadro alarmante e aumentar a capacidade de geração de energia elétrica. O Brasil iniciou o processo para a regulamentação da hibridização das fontes de energia, que consiste em permitir a utilização de diversos tipos de geração de energia em um mesmo sistema.
Estudo recente publicado pela Michigan State University, que analisou o caso específico do País, mostra que a associação das hidroelétricas à geração solar flutuante aumentaria a capacidade de geração de energia em mais de 17,3%.
Hoje, apenas as hidrelétricas do Norte do Brasil têm uma ociosidade da ordem de 12 GW por conta dos baixos níveis dos reservatórios. “O Brasil ainda não deu a devida atenção à discussão e a urgente necessidade de regulamentação da hibridização. As hidrelétricas, que são a principal fonte de energia no País, hoje trabalham muito abaixo de sua capacidade por causa da baixa dos reservatórios. A implantação das usinas solares flutuantes inibe em até 70% a evaporação dos espelhos d’água e os dois sistemas associados aumentariam em mais de 17,3% a capacidade de geração de energia das hidrelétricas”, afirma Luiz Piauhylino Filho, sócio-diretor da Sunlution, empresa brasileira pioneira na tecnologia de geração solar flutuante no País.
Há no País projetos pilotos bem sucedidos de geração híbrida. Em parceria com a Companhia Hidrelétrica do Rio São Francisco (Chesf), do Grupo Eletrobrás, a Sunlution mantém projeto de Pesquisa & Desenvolvimento que implantou painéis fotovoltaicos flutuantes em área de 10 mil metros quadrados na Usina Hidrelétrica de Sobradinho, no interior da Bahia, hoje responsáveis pela geração de 1MWp. Em uma segunda etapa, já em curso, a capacidade subirá para 2,5 MWp. “Para se ter ideia do que representa o potencial da hibridização, em 70 anos a Chesf construiu 10 GW em hidrelétricas. Se nós utilizarmos 10% da lâmina d’água dessas 12 hidrelétricas, conseguiremos instalar 52 GW em energia solar flutuante. Significa que podermos ter quatro Chesfs em um prazo de dez anos”, ilustra Luiz Piauhylino Filho.
Outro importante projeto da empresa, juntamente com a empresa francesa Ciel et Terre, foi a instalação de usina solar flutuante de 305 KWp na Fazenda em Cristalina (GO). A lagoa artificial abastecida por águas das chuvas captada dos telhados dos galpões da fazenda recebeu 1.150 painéis fotovoltaicos. A energia gerada é capaz de abastecer 170 domicílios populares brasileiros. É o primeiro caso de usina sobre lago em escala comercial no País e também o pioneiro em propriedade rural.
A Sunlution também implementou em parceria com a BYD e a KWP projeto piloto da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae) na represa Billings, em São Paulo. Ocupando área de 10.700 hectares de lâmina d’água, um dos maiores e mais importantes reservatórios de água da Região Metropolitana, a represa recebeu o projeto piloto da primeira usina fotovoltaica flutuante a partir de módulos fabricados 100% no Brasil. O tipo de planta, hoje muito difundida em países como Japão, China e Cingapura, garante até 15% mais em eficiência na comparação com fazendas solares em solo devido ao resfriamento dos painéis. A EMAE abriu em outubro de 2020 chamada pública para atrair investidores para a construção de novas plantas solares flutuantes no local.
Mercado de renováveis comemora abertura de consulta pública para regulamentar hibridização que pode atrair R$ 76 bilhões e gerar 475 mil empregos em 10 anos no País
A abertura de consulta pública para normatização do estabelecimento de usinas híbridas e associadas no Brasil foi recebida com entusiasmo pelo setor elétrico. Pelo modelo estudado seria permitido combinar duas ou mais fontes de produção de energia e potência. Desta forma, seria possível instalar usinas solares flutuantes no generoso parque hidrelétrico nacional. Além de aumentar a capacidade de geração de energia das usinas, o novo modelo híbrido pode impactar positivamente a economia, atraindo R$ 76 bilhões em investimentos e gerando 475 mil novos empregos em 10 anos. Cálculos iniciais projetam ampliação da capacidade instalada atual de 109 Gigawatts (GW) para 128 GW, gerando energia e potência.
Redução de investimentos poderá ser repassada ao consumidor final
Projetos pilotos como os da Sunlution servem de impulso e referência para a consolidação do marco legal da hibridização. Com a publicação da Portaria nº 5.571, de 29/01/2019, o tema hibridização passou a constar da Agenda Regulatória da agência para o biênio 2019-2020. Desde então, a Aneel trabalha para normatizar parâmetros regulatórios e comerciais relevantes abrangendo geração, transmissão e distribuição.
O material destaca os ganhos de eficiência para o sistema elétrico no que se refere a complementaridade e otimização do uso da rede, reduzindo custos de operação e adiando a necessidade de novos investimentos em expansão. Outro benefício ressaltado pela Comissão de Apoio à Inovação da Aneel (C-Inova) é o maior aproveitamento das instalações de transmissão e distribuição, geralmente ociosas em algumas faixas de horário hoje. Além disso, a redução dos custos pode ser repassada ao consumidor, como também elevar a garantia física da hidrelétrica e equacionar o GSF ou o Generation Scaling Factor em inglês, que corresponde à relação entre o volume de energia que é gerado pelas usinas e sua garantia física, item que condiciona os contratos do setor atualmente.
Fonte e imagens: Canal Jornal da Bioenergia
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